... E se incendeias meu cérebro,
Então te conduzirei no meu sangue (Rilke)

19 de mar. de 2014

A Decodificadora - E. F. Morais

Porque o amor algumas vezes precisa ser decifrado! 

As vozes se alternavam dentro do recinto indo e vindo desordeiramente dentro da sua mente pesada. Bárbara tentou se situar e teve dificuldades para se lembrar do que tinha acontecido. Foi tudo tão rápido que ela ainda se perguntava o que tinha acontecido. 

Talvez alguém tivesse colocado algo na bebida do fim de noite, porque ela se lembrava apenas de ter se sentido tonta e de alguém a segurando antes dela apagar. Tentou se mover e percebeu que suas mãos estavam atadas. Uma venda cobria seus olhos e tudo que ela podia sentir era a presença de algumas pessoas na sala ou onde quer que ela estivesse. - Está acordando. 

A voz masculina era rouca e baixa. Alguns passos e o barulho da maçaneta indicou que seja quem for que estivesse ali tinha saído. Uma mão fria e macia tirou sua venda. Ela sacudiu a cabeça tentando fazer com que seus olhos se adaptassem à luz. 

Sentada à sua frente uma moça ruiva e de traços bonitos a olhava cuidadosamente. - Como se sente? Bárbara a encarou confusa. Jesus, ela estava falando em inglês? Era isso mesmo? Ela não se deu o trabalho de responder. Estava mais que apta a falar e compreender o idioma e na verdade o fazia com fluência, mas foi pega de surpresa. 

Assim continuou muda. A ruiva fez uma nova tentativa. - Você está bem Babi? Babi? Esse era um apelido muito particular. Apenas algumas pessoas mais íntimas a chamavam dessa maneira e essa moça de maneira alguma era sequer uma conhecida, quanto mais uma amiga. De fato, Bárbara tinha uma ideia do que podia estar acontecendo. 

Olhou a sua volta. Estava em uma sala de interrogatório em algum departamento de polícia. Ambiente frio e cinzento. A ruiva a encarava sem muita expressão embora os olhos denunciassem certa preocupação. - Poderia desamarrar minhas mãos? Ela falou em português porque precisava ter certeza que a estranha compreendia ambas as línguas. A ruiva deu um sorriso contido e falou novamente em inglês. - Não posso compreender sua língua. Fale em inglês, eu sei que você pode. 

Bárbara repetiu o pedido em inglês e a ruiva se levantou indo até ela e desatando o nó apertado da corda. A moça esfregou os pulsos e olhou para a mulher que se manteve em pé. Ela era alta e magra com um corpo escultural dentro de um jeans e uma fina camisa branca. - Vamos ao que interessa Babi. 

Sabemos que você recebeu uma mensagem para decodificar destinada a Julian Martinez. A ruiva alta debruçou-se sobre a mesa e encarou a moça de frente. - Onde está? 

Bárbara riu, não em desafio, mas por pura incredulidade. Aquela mulher tinha que ser louca porque de maneira alguma ela daria com a língua nos dentes para alguém desconhecido e entregaria Julian tão facilmente.

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